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Além dos fios

Criança, a dificuldade veio rondar. Pouca coisa se fez lembrança. Adulta, o desafio também cresceu e Tânia enfrentou. Revisitou seu passado e encontrou seu caminho no amor, além dos fios.

 

Pequena, sempre muito chorosa. A mãe fazia o que podia para amenizar o desconforto da filha, que nem entendia de onde vinha… Muita paciência. Muito amor. Muita fé, para lidar com o que batia à porta e, mais ainda, com o que estava por vir.

O que era desconforto, virou doença e levou da menina seus belos fios. Pra ela era só cabelo. Na ingenuidade enxergava sua nova beleza com naturalidade. Mas mãe, mãe entende, mãe sofre, mãe sente. Seu coração entristeceu e sua garganta virou nó… Sua pequena criança, na inocência da pouca idade, não tinha noção de sua enorme provação. O que acontecia? Que cura teria? O cabelo voltaria? Tudo afligia, causava tensão. Tudo aumentava a preocupação.

O diagnóstico não veio, mas a saúde melhorou. E o cabelo, pouco a pouco, voltou. A mãe, que sentia mais que a filha, teve seu coração de volta no compasso. A alegre menina, que sempre encontrou aceitação, só se viu ainda mais feliz, por trocar seu bonezinho pelos cabelos que muito quis.

O tempo passou. A vida engrenou. E o que parecia a pior dor de um instante, virou passado mais que distante. Mulher feita. Alegria mantida. Sonhos e garra que sempre fizeram companhia, a mantiveram na estrada, levando a vida de maneira entusiasmada.

Mas dor que um dia doeu, vira memória do receio… A brava mulher vivia, enfrentava e do cabelo não descuidava. Medo ou pressentimento, não se sabe, mas a memória da infantil carequinha a fazia atenta a qualquer sinal de que o passado, talvez, pudesse ser vivido mais uma vez.

 

Alegre menina. Triste destino. Linda transformação. A vida repetiu o que ela mais temia. E agora, com muito mais sofrimento, mas também ousadia. Pouco à pouco, dia a dia, seus fios foram novamente perdendo espaço. O que não tinha nome lá atrás, se descobriu algo sério demais. E agora, sem mais a doce ingenuidade, a doença rasgou fundo a realidade.

Que processo doloroso. Que momento triste demais. Cabelo é vida. É identidade. Como se redescobrir na força, no gênero, na dor, se dentro e fora está tudo sem cor? Como encontrar uma luz, se medicamentos, tratamentos e espelhos eram cruz?

Ela precisou e se permitiu o sofrimento, o choro, para acolher e entender seu momento. Sua nova realidade à partir do seu novo velho eu. Sim, porque sua essência linda e única sempre permaneceu. E força não foge. Guerreira não declina. Apenas descansa. Recupera. Se põe em pé de novo e faz o que precisa ser feito para enfrentar. Para voltar o seu próprio brilhar!

Autoestima ressignificada. Imagem trabalhada. Essência iluminada. Tânia aprendeu a enxergar além do seu reflexo, além da sua fragilidade. Descobriu um novo olhar, uma nova forma de se enxergar e se permitiu transformar. Aceitou sua identidade.

 

Ajustou sua nova imagem. Compreendeu o real sentido de si na contramão do desafio. Alimentou o ser. Nutriu o compartilhar e colocou a nova Tânia pra inspirar. Mostra pro outro, que a beleza que vale é aquela interna, que o externo não equivale. Mostra que aceitação e consciência de valor, torna detalhes externos, processo indolor.  Se faz exemplo vivo de provas vencidas com total bravio. Ensina o auto amor, aquele real, puro, aquele amor muito além dos fios.